quarta-feira, 25 de abril de 2012

Ushuaia - Argentina.

Ushuaia, capital da Tierra del Fuego, é uma bela cidade com 65 mil habitantes (2010) banhada pelo Canal Beagle e cercada por montanhas nevadas. É denominada "a cidade mais austral do mundo", embora haja controvérsias sobre isso. Sua origem data de 1870 quando um grupo britânico criou o primeiro posto habitado permanente na região. Durante o final do século XVII e início do século XVIII existiu um grande presídio na cidade, e os presos foram muito importantes para o crescimento da mesma (conforme falarei mais tarde). Atualmente Ushuaia vive basicamente da pesca, turismo e atividade petrolífera.


Localização de Ushuaia no mapa da Argentina. (GoogleEarth)

Sempre dou a dica de reservar a estadia antes de viajar, é mais fácil, mais barato e assim não se perde tempo de viagem. Escolhemos a Hosteria Rosa de los Vientos (Roca, 533 / www.hrosadelosvientos.com.ar), um hotel pequeno, mas muito aconchegante onde Pablo e os demais atendentes estão sempre muito dispostos a ajudar em tudo que for preciso. O valor pago foi de AR$2250,00 para cinco dias (já com IVA incluso), com vista maravilhosa para o Cerro Cinco Hermanos e Monte Olivia.

Rosa de los Vientos Hosteria.

Existem diversas opções de passeios por Ushuaia e proximidades, vou descrever os principais pontos por onde passamos nos cinco dias em que estivemos por lá.

Imagem aérea:  1) Aeroporto, 2) Cidade e 3) Glaciar Martial. 
(GoogleEarth) 
 Imagem aérea mostrando os principais pontos de Ushuaia:  1) Porto, 
2) Rosa de los Vientos Hosteria, 3) Museo Marítimo y Presidio e 
4) Avenida San Martín. (GoogleEarth)

Dia 1: Saímos de Buenos Aires (Aeroparque Jorge Newbery) com destino a Ushuaia (Aeroporto Malvinas Argentinas) num vôo com 3h40min de duração. Chegamos a Ushuaia no meio da tarde e pegamos um taxi até o hotel (AR$25,00). Após check-in no hotel, fomos visitar o Museo Marítimo y Presidio.
Como citado no início deste post, Ushuaia sediou um grande presídio durante o final do século XVII e início do século XVIII. O local foi escolhido de forma estratégica pelo governo argentino por dois motivos: um era o de ocupação da área (que era disputada com o Chile) e outro era para isolar totalmente os prisioneiros mais perigosos (que literalmente não tinham para onde escapar, e se escapassem não durariam muito tempo no clima hostil da região). Os presos foram muito importantes para o desenvolvimento da cidade, foram eles que construíram as estradas, prédios e até a rede elétrica que cortava a cidade. O edifício do presídio hoje abriga o Museo Marítimo y Presidio. O presídio era dividido em cinco pavilhões com dois andares, hoje cada um deles abriga um tema do museu (e são vários: Museu Marítimo, Museu Antártico, Museu Policial e Penitenciário, Museu de Arte Marinho, ...) destacando a ala que relembra o dia a dia dos presos com fotos, painéis e artefatos que usavam. Um dos pavilhões foi mantido intocado pra se ter ideia do inferno que era aquele lugar. O passeio dura em média umas 3h e o custo da entrada é de AR$70,00.

Mapa do Museo Marítimo y Presidio.
Ticket do museu.
Parte do museu destinada as histórias dos presos.
Parte do museu destinada as histórias dos presos.
Ala intacta para mostrar como era o ambiente
em que os presos viviam.
 
Réplica do Faro San Juan de Salvamento.
 Trem histórico.

Saindo do museu, fomos tomar um café na Avenida San Martín. Nela há centenas de bares, cafés, lojas de artesanato e outras que se assemelham muito aos freeshop de aeroporto. Ushuaia é uma zona franca de comércio, ou seja, lá os produtos entram sem se sujeitar às tarifas alfândegarias impostas normalmente. Desta forma deveria ser um ótimo lugar para compra de perfumes, eletrônicos, chocolates, etc... Porém, se há isenção de impostos, há o tradicional custo adicional de translado (por causa da distância), oque torna o preço das coisas não tão vantajoso.
 
À noite fomos ao Bar Ideal (Irish Pub and Restaurant), um local bem no estilo Irlandês, com boa música e visitantes de todas as partes do mundo. O preço da cerveja não é tão atraente, a garrafa (longneck) custa em média AR$35,00/40,00.

Dia 2: Acordamos cedo para fazer o passeio pelo Canal Beagle. Em hipótese alguma deixe de navegar por este longo braço de mar que separa a Argentina do Chile. O nome "Beagle" vem do barco que levou Charles Darwin a região em 1832. Fizemos o passeio mais longo que passa por diversas ilhas, pela Estância Harbeton e regressa de ônibus passando pelo Cerro Castor, Paso Garibaldi e os lagos Escondido e Fagnano. A empresa que fez este trajeto foi a Canoeiro e o preço fica em AR$350,00 + 7,00 (taxa do porto). É importante frisar que fizemos o passeio duas vezes, na primeira vez o passeio não foi da forma como combinado e não pudemos visitar todos os pontos citados, pois o grupo se atrasou muito durante algumas paradas. Conversamos com o dono da empresa, o Sr. Moreno, que foi muito atencioso e nos deu o segundo passeio sem custo nenhum (este sim completo e da forma como deve ser). De certa forma foi ótimo fazer o passeio duas vezes, principalmente porque na primeira vez pudemos visitar (descer e caminhar) uma ilha onde dificilmente os barcos param, a Isla Bridges, que possui uma belíssima vegetação rasteira e acumulação de conchas (sambaqui) deixadas pela tribo Yamana, conhecido como Conchero Yamana.

 Ticket do passeio pelo canal Beagle.

O passeio completo começa num catamarã pelas águas gélidas do Canal Beagle, passando pelo Faro les Eclaieurs, que sinaliza aos navegantes a entrada da Bahía de Ushuaia, e pelas ilhas Isla de los Pajáros e Isla de los Lobos, com diversas espécies de pássaros e centenas de leões marinhos. A navegação passa em frente à Puerto Willians (no Chile [que deveria ser a cidade mais austral, mas por ser muito pequena e povoada basicamente por militares, não chega ao nível de "cidade"]), para por um tempo numa grande pinguineira com milhares de pinguins de Magalhães por todos os lados, e em seguida é feito o desembarque na Estância Harberton. A estância, localizada a 85km de Ushuaia, foi fundada em 1886 e trabalhava com a tosquia de lã de ovelha, hoje a renda vem principalmente da visita de turistas. Além de uma visita guiada pela estância, conhecendo um pouco mais sobre a vida de Thomas Bridges (fundador e importante missionário), pode-se ver o Museo Acatushún, com esqueletos de aves e mamíferos marinhos recolhidos na região. Saindo da estância, pegamos o ônibus que faz o retorno até Ushuaia parando em diversos pontos. São feitas paradas para ver as árvores bandeira (assim chamadas por ficarem tortas para a direção preferencial do vento) e as tocas de castores (animais exóticos que foram introduzidos na região para comércio de pele e acabaram virando uma praga). O ônibus faz paradas também nos miradores do Paso Garibaldi e dos lagos Escondido e Fagnano, além de uma visita a um canil de cachorros usados para puxar trenós (na base do Cerro Castor). Este é um passeio para um dia inteiro e não pode deixar de ser feito, mas não se esqueça de levar bastante água e algo para almoçar (o almoço na estância é caro e não é dos melhores).

Início da jornada, com o porto de Ushuaia ao fundo.
Isla de los Pajáros.
 Isla Bridges.
 Isla Bridges.
Isla de Los Lobos.
Faro les Eclaieurs.
Pinguineira.
Pinguineira.
Estância Harberton.
Estância Harberton.
Estância Harberton.
Estância Harberton.
Estância Harberton.
 Árvores bandeira.
Paso Garibaldi.
 Cachorros puxadores de trenó.
Zorro.

À noite saímos para comer peixe, a média de preço nos restaurantes é de AR$60,00 a 100,00 por pessoa.

Dia 3: No dia anterior fizemos a reserva para visitar o Parque Nacional Tierra del Fuego, que  dista 12km da cidade, e compreende 63 mil hectares de paisagens de tirar o fôlego. Existem várias formas de chegar e de visitar o parque (ônibus de linha, taxi, carro, a pé, etc...), sendo que escolhemos uma empresa que faz a visitação guiada pelos pontos principais do parque. Um trecho do parque fizemos com o Tren del Fin do Mundo. Esse trem é uma réplica confortável do usado pelos presos para coletar madeira (usada na construção e aquecimento). O caminho (7km dos 25km que os presos faziam) é todo guiado (português, inglês e espanhol) e é interessante para saber mais sobre a fauna/flora da região e das histórias da época do "trem dos presos". Os valores do passeio foram AR$200,00 (para a empresa) + AR$155,00 (do trem) + AR$60,00 (entrada no parque). Lembrando que se você quiser conhecer o parque por conta própria e estiver de carro ou outra condução, só paga os AR$60,00 de entrada. Existem dezenas de trilhas e miradores destacando o Lago Roca, Laguna Verde, Bahía Lapataia e Bahía Ensenada. Fazendo o passeio da forma como fizemos irá ocupar toda a manhã e parte da tarde, leve água e comida.

 Parque Nacional Tierra del Fuego.
 Parque Nacional Tierra del Fuego.
 Parque Nacional Tierra del Fuego.
 Parque Nacional Tierra del Fuego.
 Parque Nacional Tierra del Fuego.
 Parque Nacional Tierra del Fuego.

Finalizamos o passeio no meio da tarde e como o tempo estava começando a mudar (chuviscando), resolvemos visitar um centro de compras da cidade, o Shopping Passeo del Fuego. Um táxi do centro de Ushuaia até o shopping custa AR$15,00. Não há muitas lojas para visitar, destacando uma loja grande de roupa (timberland, columbia, etc...), uma loja de eletrônicos e um grande mercado.

Falando em mercado, existe em Ushuaia um supermercado chamado La Anonima, que possui preços muito em conta para bebida, sanduíches, empanadas, entre outras coisas... É uma ótima pedida para os lanches que levará durante os passeios.

Dia 4: Neste dia, mais limpo que o dia anterior, escolhemos visitar o Glaciar Martial (a 7km da cidade), que oferece uma vista mais do que panorâmica de Ushuaia e do Canal Beagle. Pegamos um táxi que custou AR$31,00, mas há opções mais baratas (como os ônibus e vans que saem do mole turístico). Chegando à base do Cerro Martial, há duas opções de subida: pode-se ir de teleférico ($50,00) ou a pé. O trecho do teleférico poupa 2km de caminhada puxada num terreno com certa inclinação e muita pedra solta. Do final do teleférico até o pé da geleira não há escapatória, tem que ser caminhando. São cerca de 2 horas em terreno bastante íngreme, mas o esforço é compensado com a vista maravilhosa lá de cima. Leve bastante água e algo para comer, pois a caminhada pode se estender por várias horas. É um passeio que irá ocupar toda a manhã e parte da tarde.

   Ticket de subida pelo teleférico.
Subida via teleférico.
Subida via teleférico.
Início da caminhada ao Glaciar Martial.
Glaciar Martial. Detalhe para a trilha de subida à esquerda.


A incrível vista da cidade que se tem do alto do Glaciar Martial.
A incrível vista da cidade que se tem do alto do Glaciar Martial.

No fim da tarde saímos para fazer compras na Avenida San Martín. Comprei coisas muito baratas nas lojas da Timberland, Columbia e Montagne (metade do preço brasileiro). Não deixe de provar (e comprar) os chocolates da Laguna Negra, são deliciosos e um ótimo presente para familiares. Aproveite para provar as cervejas artesanais locais (Cape Horn e Beagle), mas se for presentear amigos compre no supermercado e não nas casas de artesanato (o preço cai pela metade).

Dia 5: Durante o dia refizemos o passeio do Canal Beagle, conforme citei anteriormente. À noite fomos ao Tante Nina Restaurante comer um dos pratos mais típicos da região, a Centolla (crustáceo semelhante ao caranguejo, porém de proporções muito maiores). Os pratos com centolla custam em média AR$100,00, mas vale a pena experimentar. Dica: cuidado se for alérgico a algum fruto do mar, há muitos casos de infecções graves por causa deste crustáceo.

O porto de Ushuaia à noite.

No dia seguinte, seguimos viagem pela Argentina. Vale ressaltar que na saída de Ushuaia paga-se AR$28,00 de taxas de embarque no aeroporto (taxas não inclusas na passagem aérea).

Ushuaia é uma cidade maravilhosa para quem ama a natureza e a simplicidade que ela proporciona. Além das paisagens de tirar o fôlego, a cidade agrada (e muito) aos que aproveitam para fazer boas compras.
OBS: As referências de preço e horários no texto, são da época da viagem (jan. de 2012). 

6 comentários:

  1. Olá Rodrigo. Estou programando uma viagem para Ushuaia e El Calafate para janeiro/2014 (mesma estação do ano da sua visita) e suas dicas foram muito válidas. Obrigada, Fabiana

    ResponderExcluir
  2. Olá Fabiana,
    Que bom que gostou do tópico.
    Qualquer dúvida pode escrever para meu e-mail.

    ResponderExcluir
  3. Olá, Rodrigo! Estou programando uma viagem para Ushuaia em janeiro/2014 e já salvei este post nos favoritos para não esquecer das dicas. Só tenho uma dúvida: como que tava a temperatura? Muito frio? Sou do Rio e quero me preparar de acordo, já que não estamos acostumados com o frio intenso.

    Obrigada!

    Luciana

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia Luciana.
      Apesar de ser considerado verão para eles, é bem frio sim. Eu que moro no sul e sou acostumado com climas mais frios, senti um pouco principalmente por causa do vento. Durante o dia saía com uma camiseta manga curta com um blusão de moletom por cima, à noite já era necessário uma jaqueta junto. Nos passeios, principalmente o de navegação pelo Canal Beagle é indispensável um gorro/touca para proteger a cabeça do frio/ventania, e uma jaqueta bem fechada. Sugiro que tu peque por ter roupa a mais do que ter que comprar muita coisa lá. Os valores nas lojas como a Timberland eram bem em conta, não sei como está agora com essa alta do dólar.
      Sinta-se a vontade para fazer qualquer pergunta/comentário.
      Obrigado pela visita!

      Excluir
    2. Muito obrigada, Rodrigo! Melhor levar uns casacos a mais do que passar frio, com certeza!

      Um abraço!

      Excluir